"De repente, achei fascinante a ideia de começar um desenho e não saber o que vai sair. Normalmente até trabalho em dois desenhos exatamente por isso. Isto porque, quando começo um desenho por vezes parece completamente impossível que venha a funcionar a principio. Quando isto acontece paro esse desenho, começo outro e quando volto ao de origem, ao primeiro desenho, surgem normalmente soluções de composição inesperadas."
Jorge Nesbitt
Este grupo de trabalhos tem como ponto de partida um grupo de desenhos de Picasso do final da década de 1920, realizados - em Cannes e em Dinard - durante o verão. Estes desenhos de bloco sempre fascinaram Jorge Nesbitt, tanto pela inventividade formal como pelo especto escultórico que possuem.
Jorge Nesbitt começou por realizar uma série de pequenas figuras em barro compostas por sobreposições de esferas, de pequenos seixos e daquilo que parecem ser ossos alisados.
Estas formas-objeto, empilhadas umas sobre as outras em arranjos precários, criam um enigmático equilíbrio estático que as aproximam formalmente dos dolmens antigos conferindo-lhes um especto lúdico, que agrada particularmente ao artista.
A partir destas figuras, Jorge Nesbitt começa a desenhar de memória em pequenos blocos, sem uma ideia predefinida do resultado final. Este processo revela-se propício ao surgimento de respostas formais inesperadas, exercendo um fascínio particular no artista. É neste contexto que surge este fascinante conjunto de desenhos a grafite.
É também deste modo que as suas obras se inscrevem no seu tempo, com a dose certa de humor e poesia que se revelam indispensáveis, sobretudo numa altura em que o artista não teve oportunidade de ir ao atelier, como habitualmente.